História
por Miguel Santos, professor na Escola Secundária de Peniche.
Em Peniche, foi a ambição de António da Conceição Bento, que a 30 de Abril de 1955 foi recebido pelo marquês de Abrantes, responsável da Junta de Construções, quem garantiu que o concelho fosse incluído no programa nacional de construções do Plano de Fomento.
A criação do Ciclo Preparatório revelou a incapacidade do novo edifício para se expandir e albergar o novo contingente de alunos, com o início do 2.º ano do Ciclo. A atribuição de novos cursos e o crescimento da população escolar a frequentar a escola primária terão influído na decisão do governo de construir em Peniche uma escola técnica. O concurso público para o novo edifício foi lançado em Agosto de 1956, com um orçamento inicial de 6900 contos, e contou com a intervenção do arquitecto Tavela de Sousa e do engenheiro Ribeiro de Matos.
O projecto de construção aproveitou e adaptou as instalações do edifício anterior da fábrica «La Paloma», que fora adquirido pela Câmara Municipal em 1953, e foi considerado pela imprensa «um dos de mais feliz concepção neste género de estabelecimento de ensino».
A inauguração do edifício teve lugar a 13 de Dezembro de 1959 num contexto político que não pode ser ignorado, com a presença do ministro das Obras Públicas, Eduardo de Arantes e Oliveira, e do Sub-secretário de Estado da Educação Nacional, Baltazar Rebelo Sousa. O acto solene foi concertado com a inauguração de um conjunto de edificações e melhoramentos materiais que ocorreram no mesmo dia: vários edifícios do ensino primário, inscritos no Plano dos Centenários, a electrificação das povoações de Ferrel, Casais Brancos e Geraldes e duas novas avenidas, baptizadas como Avenida Dr. Oliveira Salazar e Engenheiro José Frederico Ulrich, antigo ministro das Obras Públicas, num total de 90 mil contos de investimento público.
O necessário enquadramento ideológico ficara estabelecido em reunião de câmara, onde António da Conceição Bento, também presidente da concelhia da União Nacional, decidira propor a honra toponímica às duas figuras do regime: «Considerando que Peniche, independentemente dos benefícios de ordem geral que tem vindo a usufruir, deve ao governo de Salazar importantes melhoramentos, dos quais se destacam as obras do Porto de Pesca e o edifício da Escola Industrial e Comercial, melhoramentos estes que, pela sua projecção na melhoria das condições de vida da população do concelho serão, para todos nós, marcos imorredoiros da prodigiosa obra do Grande Estadista; tenho a honra de propor que o arruamento que, partindo da entrada da vila vai até ao começo das ruas Alexandre Herculano e D. Luís de Ataíde, até agora conhecida como Ramal da Ajuda e a outra por estrada da Ajuda, passe a denominar-se Avenida Doutor António de Oliveira Salazar».
Na Assembleia Nacional, um dia depois, o deputado pelo círculo de Leiria, Vítor Galo, referiu-se à jornada fomentadora enaltecendo a obra pública e reiterando a «gratidão ao governo de Salazar» das gentes do concelho de Peniche.
A inauguração da nova escola técnica, tendo já como directora Rolanda Barros Rodrigues dos Santos, preludiava uma nova fase na Escola Industrial e Comercial de Peniche, que já não será objecto deste estudo. A partir do ano lectivo de 1959-60, a instituição passou a ministrar, para além dos cursos existentes, três novas ofertas formativas: os cursos de Motorista Marítimo e Formação Feminina, que substituía Costura e Bordados, e começou com 28 alunas; e o curso de Serralheiro em Regime de Aperfeiçoamento, com 11 alunos. A estes acrescentava-se o Ciclo Preparatório, com 174 alunos, e o curso de Serralheiro, com 50, num total de 263 matriculados em Setembro.
in "Contributos para a história do ensino técnico profissional em Peniche"